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Conheça os planos do Brasil para educação digital nas escolas

A precariedade da educação brasileira não é novidade para ninguém. E esse nível muito aquém da capacidade do país e do anseio da população prejudica diretamente o ensino e o aprendizado da tecnologia. É certo que a educação digital é fundamental para o desenvolvimento da nação nos atuais dias, mas será que o governo brasileiro tem feito esforços nessa área? E como desenvolver o ensino da tecnologia se nem mesmo conseguimos aprimorar disciplinas básicas?

A ignorância digital, além de afastar os jovens de grande parte do mercado de trabalho, causa outro problema significativo: quanto menos se conhece de tecnologia, mais se fica exposto a ataques hackers. A segurança fica comprometida e a pessoa pode passar por sérios problemas. Mas, infelizmente, ainda engatinhamos no ensino básico da tecnologia. Pensar no ensino da segurança é visualizar passos futuros.

Em julho do ano passado, o Ministério da Educação (MEC) estava desenvolvendo a criação de uma política nacional de conteúdos digitais para as escolas. A ideia era da secretária de Educação Básica do MEC, Maria Beatriz Luce. Mas, ela não seguiu no cargo em 2015 e um novo nome é aguardado na pasta.

O MEC, contudo, garante que já desenvolve políticas para desenvolver o ensino digital nas escolas. De acordo com o Ministério, existe uma “atuação de forma suplementar, que auxilia as redes municipal e estadual, bem como as respectivas unidades de ensino, com ações como implantação de laboratórios de informática, distribuição de recursos tecnológicos e produção de conteúdos digitais”.

Abaixo, as ações já iniciadas, segundo o MEC:

ProInfo Integrado – Programa Nacional de Tecnologia Educacional

O ProInfo tem a finalidade de promover o uso das tecnologias como ferramenta de enriquecimento pedagógico no ensino público fundamental e médio. O funcionamento do ProInfo se dá de forma descentralizada, existindo em cada unidade da Federação uma Coordenação Estadual, e os Núcleos de Tecnologia Educacional (NTE), dotados de infraestrutura de informática e comunicação que reúnem educadores e especialistas em tecnologia de hardware e software. O principal objetivo é fomentar o uso pedagógico das tecnologias de informação e comunicação nas redes públicas de educação básica.

Um aspecto desse programa é a evolução para três dimensões: além da infraestrutura, há a capacitação de professores e a oferta de conteúdos educacionais. Ao incluir a cultura digital na comunidade escolar, há uma dinamização e uma qualificação dos processos de ensino e de aprendizagem, o que contribui para promoção de melhorias no desenvolvimento de competências, habilidades e conhecimentos de professores e alunos. Todas essas ações são desenvolvidas em rede com o apoio de estados e municípios.

Projetor Interativo

O projetor interativo foi idealizado em agosto de 2007 como uma ferramenta para professores utilizarem nas salas de aula. O equipamento é composto essencialmente por um processador de baixo custo, teclado, mouse, portas USB, porta para rede wireless e rede PLC, unidade leitora de DVD e um data show interno para que os professores possam projetar os conteúdos digitais nas salas de aula.

Em síntese, o dispositivo permite apresentar conteúdos digitais armazenados no servidor da escola (aonde chega a banda larga e estão disponíveis conteúdos) captados pelo dispositivo por meio de rede wireless ou via rede elétrica (PLC) e também apresentar informações armazenadas pelos professores em pendrive ou disponíveis em DVD, lembrando que nossas escolas já dispõem de caixas de conteúdos educacionais em DVD. Além disto, o dispositivo dispõe de software que permite o trabalho colaborativo em sala de aula, como por exemplo, editor de texto, planilha eletrônica e editor de imagens.

Lousa Digital

A lousa digital é um equipamento que transforma a superfície onde a imagem está projetada em uma grande tela sensível ao toque, permitindo a interação com o conteúdo projetado. A solução foi desenvolvida para complementar o Computador Interativo, que é um dispositivo de projeção portátil e leve que pode ser usado pelos professores em sala de aula. Além de ser um projetor, o equipamento contém teclado, mouse, portas USB, porta para rede wireless e unidade leitora de DVD.

O equipamento permite acesso à internet, apresentação de conteúdos digitais armazenados no servidor da escola, compartilhamento de arquivos, gravação das aulas e apresentação de conteúdos gravados pelos professores em pendrive e conteúdos disponíveis em DVD.

Programa Banda Larga nas Escolas

O programa é resultado de uma parceria entre os ministérios da Educação, das Comunicações, do Planejamento, Orçamento e Gestão, da Casa Civil da Presidência da República e da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel). As operadoras de telecomunicações instalam a conexão em alta velocidade (um megabit de download) e oferecem a ampliação periódica dessa velocidade para manter a qualidade e a atualidade do serviço durante a vigência da oferta, até 2025.

Tablets

O uso de tablets no ensino público é uma das ações do Proinfo Integrado, programa de formação do Ministério da Educação voltado para o uso didático-pedagógico das Tecnologias da Informação e Comunicação (TIC) no cotidiano escolar, articulado à distribuição dos equipamentos tecnológicos nas escolas e à oferta de conteúdos e recursos multimídia e digitais.

Em 2012, foram destinados tablets aos professores de escolas de ensino médio da rede pública de ensino. Foram pré-requisitos para definir por onde começar a distribuição de tablets: ser escola urbana de ensino médio, ter internet banda larga, laboratório do Programa Nacional de Tecnologia Educacional (ProInfo) e rede sem fio.

Domínio público

O “Portal Domínio Público“, lançado em novembro de 2004, propõe o compartilhamento de conhecimentos de forma igualitária, colocando à disposição de todos os usuários de internet uma biblioteca virtual para professores, alunos, pesquisadores e população em geral.

Este portal foi feito em um ambiente virtual que permite coleta, integração, preservação e o compartilhamento de conhecimentos, sendo seu principal objetivo o de promover o acesso às obras literárias, artísticas e científicas (na forma de textos, sons, imagens e vídeos), já em domínio público ou que tenham a sua divulgação devidamente autorizada, que constituem o patrimônio cultural brasileiro e universal.

Portal do Professor

O Portal do Professor é um ambiente virtual com recursos educacionais que facilitam e dinamizam o trabalho e um espaço para troca de experiências entre professores do ensino fundamental e médio.

O conteúdo do portal inclui sugestões de aulas de acordo com o currículo de cada disciplina e recursos como vídeos, fotos, mapas, áudio e textos. Nele, o professor poderá preparar a aula, ficará informado sobre os cursos de capacitação oferecidos em municípios e estados e na área federal e sobre a legislação específica.

Guia de tecnologias

O Guia de Tecnologias é composto pelas tecnologias pré-qualificadas em conjunto com as desenvolvidas pelo MEC. Com essa publicação, o Ministério busca oferecer aos gestores educacionais uma ferramenta a mais que os auxilie na aquisição de materiais e tecnologias para uso nas escolas públicas brasileiras.

Computadores ainda não entram em sala de aula

Apesar dos planos do MEC, que nem sempre entram em prática em muitas escolas, é preciso integrar as ideias aos alunos. As evidências são claras na prática e em números. A maioria das escolas públicas do país (99%) tem computador e acesso à internet (95%), mas a tecnologia ainda não está na sala de aula. Os dados são da pesquisa TIC Educação, lançada no fim de 2014, pelo Comitê Gestor da Internet no Brasil (CGI) por meio do Centro Regional de Estudos para o Desenvolvimento da Sociedade da Informação (Cetic).

O problema mostra que a vontade em aplicar o ensino digital nas escolas sozinha não basta. O país possui uma série de problemas que trava o caminhar da educação. Segundo a pesquisa, feita em 1.125 escolas em áreas urbanas e que ouviu estudantes, professores e diretores, em apenas 6% dos estabelecimentos os computadores estão instalados nas salas de aula e 85% nos laboratórios de informática.

“O que é um negócio ainda meio esquisito, que é separado da biblioteca. Então, você passa a ideia que livro é uma coisa e computador é outra. Tudo fora de lugar”, disse o assessor da Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e a Cultura (Unesco), Guilherme Canela.

Em 30% das escolas o uso do computador acontece prioritariamente na sala de aula, mas por esforço dos educadores. “Porque ou professor ou a professora gentilmente leva o seu equipamento para a sala de aula”, acrescentou Canela. Diante desse fato, o assessor da Unesco indagou como é possível construir uma escola da chamada educação do século 21 se “o computador está em uma outra sala, trancada com 53 cadeados?”.

Apesar da disseminação dos computadores e acesso à rede, a velocidade das conexões ainda aparece como um problema. De acordo com a pesquisa, 57% das escolas têm conexões até 2megabits por segundo, velocidade mínima prevista pelo Programa Banda Larga nas Escolas. Essa velocidade só é superada em 19% dos estabelecimentos de ensino. Em 17% dos casos, a velocidade é inferior a 1 megabit por segundo.

Há ainda a disparidade regional. O acesso à internet é universal (100%) nas escolas do Sul e do Sudeste, mas atinge 86% dos estabelecimentos do Norte e Nordeste. Em relação à velocidade, o Nordeste e o Centro-Oeste concentram as conexões mais lentas, com 51% e 61% respectivamente das redes funcionando abaixo de 2 megabits por segundo.

Livros serão digitais a partir de 2017

Em 2017, todos os livros das escolas públicas terão versão digital. Essa é a estimativa do diretor de Ações Educacionais do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE), Rafael Torino. Com o livro digital, os estudantes e professores poderão acessar conteúdos interativos, poderão clicar em uma imagem e assistir a um vídeo, poderão selecionar uma palavra e ter acesso a um jogo. Tudo pelo computador ou tablet. Isso facilitará as atualizações. O papel, no entanto, não perderá espaço.

“A tecnologia deve entrar de forma gradual e de forma complementar ao papel. O papel ainda é a mídia universal, usado por qualquer aluno em qualquer lugar do Brasil, independentemente de condições externas”, afirmou.

Embora a tecnologia já seja uma realidade em muitas escolas privadas, em um universo de mais de 40 milhões de estudantes de escolas públicas de todas as regiões brasileiras, fatores como o acesso à internet, à tecnologia e mesmo à eletricidade devem ser levados em consideração.

As experiências com a digitalização começaram a ser feitas no ano passado, no ensino médio, com a distribuição de tablets aos professores da rede pública. O FNDE comprou a versão PDF de 230 títulos do Programa Nacional do Livro Didático (PNLD) por R$ 20 milhões.

Para 2014, a digitalização já foi pensada no edital. Os livros que serão distribuídos este ano pelo programa trazem um elemento a mais, os chamados objetos educacionais digitais. São vídeos e jogos educativos disponibilizados em DVDs, que podem ser livremente copiados pelos estudantes. O material será disponibilizado também online. O custo para o FNDE foi R$ 68 milhões, e o total gasto com os livros chegou a R$ 570 milhões.

O olhar latino-americano do problema

O impacto da introdução de tecnologias na sala de aula e no dia a dia dos alunos e professores foi tema de discussões no fim de 2014, no Rio de Janeiro, entre pesquisadores, empresários e representantes de países latino-americanos, na segunda edição do Bett Latin America Leadership Summit, evento que trata das estratégias inovadoras para o futuro da educação na América Latina. Uma das mudanças identificadas por educadores é o papel do professor, que deixa de ser o detentor das informações.

“O grande desafio da escola hoje é o seguinte: a informação chega a todo mundo. Mas é preciso transformar essa informação em conhecimento. Eu sei de tudo, toda a informação vem para mim, mas isso gera o que na minha vida? O desafio do professor, hoje, é fazer esse salto, esse pulo do gato, essa conexão. Transformar a informação em conhecimento”, disse na época a secretária de Educação da Paraíba, Márcia Figueiredo, uma das palestrantes da primeira mesa do evento.

O diretor-geral de Tecnologias Educacionais do Ministério de Educação do Peru, José Antonio Chacón, defendeu o investimento em tecnologia nas salas de aula como parte da infraestrutura educacional.

“Quanto mais o professor utilizar a tecnologia como meio e ferramenta, mais ele vai melhorar a qualidade do ensino”, disse.

A adoção de uma tecnologia, no entanto, tem que ser planejada para não ficar obsoleta, disse durante o evento o especialista de vendas e marketing de tecnologias educacionais Anthony Cortes:

“Hoje, nos Estados Unidos, vemos governos comprando tecnologias para serem usadas daqui a três ou quatro anos, quando já vão estar obsoletas. É preciso pensar dez anos à frente, e não apenas no que está sendo implementado agora. A tecnologia que está em implementação precisa ser discutida, porque colocar tecnologia por colocar não adianta. Gastamos recursos importantes à toa”.

Redação PSafe

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